Um Fantasma: III. A Moldura

Como a um quadro a moldura se acrescenta
- Mesmo se for de um mestre celebrado –
Um não sei quê de estranho e de encantado,
Isolando-o da vasta natureza,

Assim jóias, metais, móveis, adornos,
Tão bem à sua beleza se adaptavam;
Àquela perfeição nada ofuscava
E tudo lhe servia de contorno.

Por vezes dir-se-ia que ela achava
Que tudo a queria amar, e mergulhava
Toda a nudez voluptuosamente

Entre os beijos do linho e do cetim,
E, lenta ou brusca, em cada movimento
Mostrava a ingénua graça do sagui.



Charles Baudelaire

As Flores do Mal
Assírio e Alvim, 1992
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

Sem comentários: