Vem ao meu peito, alma cruel e surda,
Tigre adorado, com ares indolentes;
Vou mergulhar os meus dedos frementes
Na espessura da tua farta juba;
Nos teus saiotes cheios de perfume
Amortalhar esta cabeça aflita
E respirar, como flor ressequida,
O suave mofo de um amor defunto.
Quero dormir! mais que viver, dormir!
E num sono tão doce como a morte
Espalharei os meus beijos sem remorso
Plo teu corpo lustroso como o cobre.
Para engolir o meu choro sereno
Nada melhor que o abismo do teu leito;
Na tua boca mora o esquecimento
E o próprio Letes corre nos teus beijos.
Ao meu destino, agora uma delícia,
Irei obedecer, predestinado;
Mártir dócil, sem culpa condenado,
Cujo fervor lhe espicaça o suplício,
Irei sugar, pra afogar o meu ódio,
Toda a boa cicuta e o nepentes
Nos belos bicos desse esguio colo
Que nunca teve um coração lá preso.
Tigre adorado, com ares indolentes;
Vou mergulhar os meus dedos frementes
Na espessura da tua farta juba;
Nos teus saiotes cheios de perfume
Amortalhar esta cabeça aflita
E respirar, como flor ressequida,
O suave mofo de um amor defunto.
Quero dormir! mais que viver, dormir!
E num sono tão doce como a morte
Espalharei os meus beijos sem remorso
Plo teu corpo lustroso como o cobre.
Para engolir o meu choro sereno
Nada melhor que o abismo do teu leito;
Na tua boca mora o esquecimento
E o próprio Letes corre nos teus beijos.
Ao meu destino, agora uma delícia,
Irei obedecer, predestinado;
Mártir dócil, sem culpa condenado,
Cujo fervor lhe espicaça o suplício,
Irei sugar, pra afogar o meu ódio,
Toda a boa cicuta e o nepentes
Nos belos bicos desse esguio colo
Que nunca teve um coração lá preso.
Charles Baudelaire
As Flores do Mal
Assírio e Alvim, 1992
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
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