«O senhor Valéry percorria sempre as mesmas ruas da cidade com os mesmos sapatos, um par de sapatos para cada rua.
Desde que nascera que vivia por ali, mas só conhecia 5 ruas que percorria com os seus 5 pares de sapatos diferentes.
O senhor Valéry explicava:
- É que absorvo demasiado as coisas. É como se ao atravessar uma rua nova o chão ficasse colado aos meus sapatos e mais ninguém tivesse espaço para pousar os pés. É como se a partir daí só os pássaros pudessem percorrer a rua - finalizava, num tom poético, muito raro em si, pois era uma homem que s orgulhava da sua lógica.
- O problema - explicava o senhor Valéry -não é dos sapatos, é da minha vontade de levar para casa tudo aquilo em que toco.
E o senhor Valéry clarificava:
- Como não me sinto completo comigo apenas, penso que tudo o que não sou eu me poderá completar, e portanto quero-o para mim, e roubo-o ao mundo.
- Na verdade, as ruas agarram-se aos meus sapatos porque eu não sou feliz - disse o senhor Valéry, melancólico.»
Desde que nascera que vivia por ali, mas só conhecia 5 ruas que percorria com os seus 5 pares de sapatos diferentes.
O senhor Valéry explicava:
- É que absorvo demasiado as coisas. É como se ao atravessar uma rua nova o chão ficasse colado aos meus sapatos e mais ninguém tivesse espaço para pousar os pés. É como se a partir daí só os pássaros pudessem percorrer a rua - finalizava, num tom poético, muito raro em si, pois era uma homem que s orgulhava da sua lógica.
- O problema - explicava o senhor Valéry -não é dos sapatos, é da minha vontade de levar para casa tudo aquilo em que toco.
E o senhor Valéry clarificava:
- Como não me sinto completo comigo apenas, penso que tudo o que não sou eu me poderá completar, e portanto quero-o para mim, e roubo-o ao mundo.
- Na verdade, as ruas agarram-se aos meus sapatos porque eu não sou feliz - disse o senhor Valéry, melancólico.»
Gonçalo M. Tavares
O Senhor Valéry
Editorial Caminho, 2002
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