Se eu pudesse voltar,
recuperar a escuridão
a seguir à gritaria dos convidados
quando alguém apagou de um sopro
as velas do bolo de aniversário.
Saber por que continuo sonhando
com essa manhã de caça,
o ruído do tiro às perdizes
misturando-se ao de um punhado de terra
lançado a um caixão.
Se eu pudesse voltar
achar-te-ia mais nítida
que em minha memória fiel?
O modo de pores
a fita no cabelo,
o comboio onde andávamos,
a canção que assobiavas
a preparar o pequeno-almoço:
“I walk alone”.
Se eu pudesse voltar.
Jorge Teillier
Tradução A.M.
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