«Não sei», gritei sem som, «não sei mesmo. Se ninguém vier, então, olha, não vem ninguém. Não fiz mal a ninguém, ninguém me fez mal, mas ninguém me quer ajudar. É só ninguéns, um chorrilho de ninguéns. Mas também não é bem assim. O que acontece é que ninguém me ajuda - tirando isso, um chorrilho de ninguéns até seria engraçado. Gostava muito - porque não - de fazer um passeio acompanhado por um chorrilho de ninguéns. Claro que pelas montanhas, que outra hipótese haveria? Como estes ninguéns se iriam empurrar uns aos outros, todos aqueles braços esticados a cruzarem-se uns com os outros, todos aqueles pés separados por minúsculos passos! Claro que todos vestidos de fraque. E não vamos nada mal, o vento passa por entre os espaços que nós e a massa dos nossos membros deixamos livres. As gargantas libertam-se nas montanhas! É de admirar que não cantemos.»



Franz Kafka

Os Contos
Assírio & Alvim, 2004
Tradução de José Maria Viera Mendes

Sem comentários: