A duquesa não hesitou um instante. O príncipe enfadava-a, e o conde parecia-lhe perfeitamente digno do seu amor. Só havia no mundo um homem que ela lhe pudesse preferir. De resto, ela reinava sobre o conde, e o príncipe, dominado pelas exigências da sua posição, haveria de reinar mais ou menos sobre ela. E depois podia-se tornar inconstante e tomar amantes. A diferença de idade pareceria, dentro de poucos anos, dar-lhe esse direito.

Desde o primeiro instante, a perspectiva de se afundar no tédio tinha decidido tudo. No entanto a duquesa, que queria mostrar-se afável, pediu-lhe que a deixasse reflectir.

Demasiado longo seria relatar aqui os contornos de frases quase ternas e os termos infinitamente graciosos nos quais ela soube envolver a sua recusa. O príncipe encolerizou-se. Via escapar-se-lhe toda a sua felicidade. Que iria ser dele quando a duquesa saísse da corte? De resto, que humilhação sofrer uma recusa! «Enfim, que vai dizer-me o meu criado de quarto francês quando eu lhe contar a minha derrota?»

A duquesa teve artes de acalmar o príncipe e de conduzir pouco a pouco a negociação aos seus verdadeiros termos.

– Se Vossa Alteza se dignar consentir em não forçar o efeito de uma promessa fatal e horrível aos meus olhos, porque fará que eu tenha desprezo por mim própria, passarei a minha vida na sua corte, essa corte será sempre o que foi este inverno. Todos os meus instantes serão consagrados a contribuir para a sua felicidade como homem e à sua glória como soberano. Se exigir que obedeça ao meu juramento, irá macular o resto da minha vida e eu sairei logo em seguida dos seus Estados, para nunca mais voltar. O dia em que eu perder a honra será também o último dia em que nos voltaremos a ver.



Stendhal
A Cartuxa de Parma
Planeta DeAgostini
Tradução de Américo de Carvalho

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