Um castelo no mar

Depois destes dias de chuva
maio abandonou-te à preguiça
do sol.
Procuraste a distante cadeira
do jardim
longe de qualquer sombra,
cedeste a um tempo insidioso
que convence o esquecimento
do teu corpo
destruído, desmoronado, caído
roída de pedra de um castelo
no mar.
Alegras-te na vadiice de
quem mais uma vez descobre
as horas tardias do verão e
deixas os pés, descalços,
sentirem de uma forma desamada
os mínimos cristais da terra.
E os teus lábios dão-te a
arte ardilosa da pergunta
para que serve, ainda, a força
do corpo senão para cortar?



João Miguel Fernandes Jorge
O Barco Vazio
Editorial Presença, 1994

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