Oh justo, subtil e poderoso ópio que ao coração do pobre como ao do rico, às feridas que jamais sarariam e «às angústias que induzem o espírito a rebelar-se», ofereces um bálsamo consolador! Ópio eloquente, que com a tua retórica desarmas os planos da ira e que, por uma noite, restituis ao homem culpado as esperanças da juventude e as mãos lavadas de sangue; que ao homem altivo dás um breve esquecimento

dos agravos não remidos, dos insultos por vingar;

que intimas os perjuros a comparecerem no tribunal dos sonhos, para triunfo da inocência sofredora; que confundes o perjúrio e anulas as sentenças dos juízos iníquos! Tu constróis no seio das trevas, extrais da fantástica matéria cerebral cidades e templos que ultrapassam a arte de Fídias e dos Praxíteles, o esplendor da Babilónia e Hecatômpilos; e «da anarquia de um sono provocado de sonhos» chamas para a luz do sol os rostos de beldades há muito enterradas e as abençoadas famílias fisionomias, limpas dos «ultrajes da tumba». Tu, só tu dás isso ao homem; só tu tens as chaves do paraíso, ó justo, subtil e poderoso ópio!



Thomas de Quincey

Confissões de um Opiómano Inglês
Contexto Editora, 2001
Tradução de Manuel João Gomes

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