Para mim, o mais importante na tragédia é o sexto acto:
o ressuscitar no campo de batalha,
o ajeitar das perucas e dos trajes,
o arrancar da faca no peito,
o tirar da corda do pescoço,
o dispor-se na fileira entre os vivos
de cara voltada para o público.
As vénias individuais e colectivas:
a mão branca sobre a ferida no peito,
o reverenciar da suicida,
o acenar da cabeça cortada.
As vénias aos pares:
a fúria dando o braço à brandura,
a vítima trocando um olhar doce com o carrasco,
o rebelde sem rancor acertando o passo com o tirano.
O pisar da eternidade com a biqueira da botina dourada.
O escorraçar da moral com a aba do chapéu.
A incorrigível prontidão de recomeçar amanhã.
Wislawa Szymborska
Alguns gostam de poesia - Antologia (Czeslaw Milosz e Wislawa Szymborska)
Cavalo de Ferro, 2004
Selecção, introdução e tradução do polaco de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves
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