E eis que a mulher aparece dentro da sombra,
largando o sangue entre as árvores, e é o seu
corpo visível que se transforma e se deixa levar
pela noite, esquecendo que a sua alma está
presa ao homem que a algemou para sempre.
Não é ela que eu vejo, espanta-se o pedreiro.
E as mãos dele enlouquecem até à exaustão.
Uma coisa nada humana sai do tronco de um
sicómoro. É a mulher esvaindo-se na cinza,
uma borboleta esmagada por um cilindro.
Porque era tarde demais e o amor do homem,
tal como as aves, morreu com o esplendor
das últimas uvas.
Jaime Rocha
Os Que Vão Morrer
Relógio D´Água, 2000
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