Defende-me, Senhor. (O vocativo
Não implica ninguém. É só palavra
Deste exercício que o fastio lavra
E que na tarde do temor eu vivo.)
Defende-me de mim. Já o disseram
Montaigne e Browne e um espanhol que ignoro;
Qualquer coisa me resta desse ouro
Que os meus olhos de sombra recolheram.
Defende-me, Senhor, do impaciente
Desejo de ser mármore, esquecimento;
Defende-me de ser o que fui sendo,
O que já fui irreparavelmente.
Nunca da espada ou da vermelha lança,
Defende-me, isso sim, da própria esperança.
Jorge Luís Borges
in O Ouro dos Tigres, Obras Completas, II (1952 - 1972)
Editorial Teorema, 1998
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
2 comentários:
Curiosando...
Outra tradução, aqui:
http://ruadaspretas.blogspot.com/2009/05/jorge-luis-borges-religio-medici.html
.
.
Defende-me, Senhor. (O vocativo
não implica Ninguém. É só uma palavra
deste exercício que o tédio lavra
e que redijo na tarde do temor.)
Defende-me de mim. Disseram-no já
Montaigne e Browne e um espanhol que ignoro;
algo me resta ainda de todo esse ouro
que recolheram meus olhos de sombra.
Defende-me, Senhor, do impaciente
apetite de ser mármore e olvido;
defende-me de ser o que já fui,
o que já fui irreparavelmente.
Não da espada ou da rubra lança
defende-me, mas é da esperança.
.
.
Abc
É, há pequenas diferenças. A tradução nunca é linear. Muito obrigada por esta outra versão.
Cumprimentos cordiais.
Enviar um comentário