Palheiros de Mira, 26 de Junho de 1949
O dia inteiro deitado na areia, bêbedo de sol, de sal e de som. Fui com os homens ao mar, ouvi-os cantar o Avé enquanto a corda da rede deslizava no bordo do barco, mas, apenas desembarquei, estendi-me novamente no chão, e ali fiquei ensimesmado a olhar. Não há dúvida que nunca serei capaz de dizer coisa com coisa do muito que trago na alma e tenho recolhido no meu já longo caminho. Tanto livro, tanta palavra, tanto esforço, e nada! Chocalha um oceano inteiro dentro de mim, e não consigo ir além dum poema estúpido, sonolento, que acaba assim:
O mar é bom,
Toca música.
Miguel Torga
Diário V
Edição do Autor, 1951
O dia inteiro deitado na areia, bêbedo de sol, de sal e de som. Fui com os homens ao mar, ouvi-os cantar o Avé enquanto a corda da rede deslizava no bordo do barco, mas, apenas desembarquei, estendi-me novamente no chão, e ali fiquei ensimesmado a olhar. Não há dúvida que nunca serei capaz de dizer coisa com coisa do muito que trago na alma e tenho recolhido no meu já longo caminho. Tanto livro, tanta palavra, tanto esforço, e nada! Chocalha um oceano inteiro dentro de mim, e não consigo ir além dum poema estúpido, sonolento, que acaba assim:
O mar é bom,
Toca música.
Miguel Torga
Diário V
Edição do Autor, 1951
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