Escrevo onde à nudez cabe o papel habitualmente
atribuído a uma janela. Quando afasto as cores para no
lugar delas não deixar senão a luz ou me debruço ao
peitoril sobre os meus próprios intestinos, a ficção fica
por conta dos relâmpagos. É como se habitasse uma
cidade que tivesse um espelho por subúrbios e o mar
viesse estilhaçar-se ao fundo da memória, onde se encon-
tra o coração. Abro na página um buraco onde alicerço a
casa, as letras vêm às janelas.
Luís Miguel Nava
Poesia Completa 1979-1994
Publicações D. Quixote, 2002
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