Ela quer que eu escreva um poema.

Que o papel vinha, comera-me vontade,
sabes, as letras estão escondidas
como a hecatombe atrás do silêncio,
e por jogo quisera ultimar o ponto.
Vês, a palavra sai, e surpreende, me.
O problema do fundamento;
(este poema já vai enorme).
Pouca força houve, intensão, propósito,
mas ele forma-se (por causa dela)
na discussão do que tenho para dizer.
O poema acaba por ser
o que especulo que ele seja: que será o poema?
Escrevo-lhe, e que seja. O poema é.
Liberdade.
(o poema já vai enorme!).
À volta da ideia de poema,
as palavras são poema.
Até é perigoso adiantar mais:
a música e o fumo do bar, as pessoas…
Eu tenho imensos poemas
em mim que podem nascer por pedido dela.
No meu imenso mundo, as imensas
partes
que nem eu sei.
Surpreendido de ser;
não admira, o império humano.



pedro outono

Poemas de um Quarto Fechado
A Mar Arte, 1995

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