A um mirto

Nascido antes de Cristo
uma vez mais floriu
o velho e agora jovem mirto.

Junto ao poço as suas fundas raízes
e o mesmo vivo, sempre generoso
aroma das folhas; o tronco
torturado por nodosas chagas,
cavernas, golpeado de musgo e cobre,
mas com baixos, com tenazes rebentos.

Quantos ali perdeste, quantos
se amaram à tua sombra?
Alguém como eu acaso te beijou?
Quantos passos em volta? Quanta chuva
desejou o Romano que para aqui te trouxe?
E a quantas exalações da vida assististe
como muda testemunha, ó corpo mediterrâneo
sobrevivente a tantos tantos deuses mortos?



António Osório

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