Mensagem ao Papa

Não és tu o confessionário, oh Papa!, somos nós; compreende-nos, e que os católicos nos compreendam.

Em nome da Pátria, em nome da Família, incentivas a venda das almas e a livre trituração dos corpos.

Entre a nossa alma e nós mesmos, temos muitos caminhos a percorrer, bastantes distâncias a superar, para que venham interpor-se os teus vacilantes sacerdotes e esse amontoado de aventuradas doutrinas com que se nutrem todos os castrados do liberalismo mundial.

Ao teu deus católico e cristão que - como os outros deuses - concebeu todo o mal:

Tu meteste-o no bolso.

Nada temos que fazer com os teus cânones, índex, pecados, confessionários, clericalha; pensamos numa outra guerra, uma guerra contra ti, Papa, canalha.

Aqui o espírito confessa-se ao espírito.
Da cabeça aos pés da tua farsa romana, o ódio triunfa sobre as verdades imediatas da alma, sobre essas chamas que consomem o próprio espírito.

Não há Deus, Bíblia ou Evangelho, não há palavras que detenham o espírito.
Não estamos no mundo.
Oh Papa, confinado no mundo!, nem a terra, nem Deus falam de ti.

O mundo é o abismo da alma!

Papa aleijado, Papa alheio à alma; deixa-nos nadar em nossos corpos, deixa as nossas almas nas nossas almas; não necessitamos da tua espada de Verdades.



Antonin Artaud

Carta Aberta... aos Poderes
Padrões Culturais Editora, 2009
Tradução de Largebooks

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