Henri Michaux























Henri Michaux, nasceu em Namur, em 24 de maio de 1899.
Poeta francês de origem belga, oriundo de uma família burguesa com juristas, arquitectos e etc . Porém, nunca gostou do seu país, nem da sua gente ou paisagem. Desde cedo sentiu a realidade como algo distante e envergonhava-se de tudo o que o rodeava.
Então escrevia, nesse tempo já vivia no mundo como estrangeiro, pensando até em tornar-se monge. Em 1920, abandonou os estudos de medicina para realizar uma longa odisseia como marinheiro, saindo de Boulogne-sur-Mer. Nesse mesmo ano, em Roterdão, repete a experiência rumo a Buenos Aires e ao Rio de Janeiro. Aos 23 anos, descobre a literatura com o sobressalto que lhe provoca a leitura d´ Os Cantos de Maldoror (Les Chants de Maldoror, 1868), do uruguaio Lautréamont (1846-1870). A sua futura criação teria uma aura misteriosa, subterrânea, e simbolicamente obscura tal como a obra de Lautréamont.
De volta a Paris, em 1923, estuda literatura e volta a viajar até 1937 pela Ásia, África do Norte e América do Sul, revelando uma tomada de consciência em relação ao mundo e às coisas. A razão principal pela qual viaja é para expulsar do seu interior “a sua pátria, os seus vínculos de qualquer classe”. Fugindo das terras estrangeiras, enviava poemas que definiu num dos seus livros como “cápsulas de observar”. Escreveu o seu primeiro livro, Qui je Fus (1927), que o revela como escritor original; publicando seguidamente o autobiográfico Ecuador (1929), relato de uma viagem, e Une Barbare em Asie (1933), traduzido para o espanhol por Jorge-Luis Borges, que conheceu Michaux e considerou o texto “um jogo”. A seguir veio Voyage en Grande Garabagne (1936), Plume (1938) e Lointain Intérieur (1938). Visitando Montevidéu, Uruguai, em 1936, apaixonou-se pela poeta Susana Soca, que morreu jovem e era conhecida por uma legendária beleza. Anos depois, em 1943, casaria com uma mulher divorciada e tuberculosa, Marie-Louise Termet.

Michaux, odiava as artes plásticas, todavia em 1924, depois de fixar residência em Paris e ao conhecer a obra de Paul Klee, De Chirico, Max Jacob e outros surrealistas, muda de opinião. Fascinado principalmente pela criação do suíço Klee, decidiu procurar uma forma de expressão visual. Em 1937 começou a desenhar e a pintar, expondo em galerias e indo ao encontro das mesma ideias da sua literatura: uma viagem através de si mesmo. A sua técnica ágil prefere a aquarela e a tempera ao óleo, fundindo formas gráficas que lhe permitem criar um universo poético e ímpar. Não se pode definir o seu trabalho pictórico como ilustração, riscos, ideogramas ou alfabeto. Diria antes algo de inacabado e inacessível; tal como a sua literatura, outra forma mas com igual destino: o de explorar o mundo interior. Há uma espécie de tremor que habita nas suas manchas, um despojamento entre fragilidade e sobriedade. São como curtos-circuitos, caligrafia nervosa que avança e retrocede, impulsos que buscam inutilmente uma saída. “Eu queria desenhar a consciência de existir e o fluir do tempo”, confessou.

Foi colaborador assíduo da importante Sur, uma revista literária argentina que difundiu a arte inovadora, além de divulgar as actividades da Resistência francesa. Tornou-se conhecido em França a partir dos anos 40, quando André Gide escreveu um texto sobre ele. Com a trágica morte de sua esposa, falecida em consequência das graves queimaduras de um incêndio acidental em 1948, escreve em sete páginas o emocionante poema Noux Deux, Encore, depois recolhido pelo próprio autor e transformado numa obra clandestina, maldita. Cansado, levou o seu quotidiano em viagem, interrogou-se em Passages (1937-1950) : “Para quê viajar quando uma rima faz nivelar uma montanha, quando um adjectivo povoa um país, quando uma assonância faz oscilar a Terra inteira?”.

Descobriu os alucinogénios em 1956, sob controlo médico experimentou ópio, ácidos e mescalina, o principal alcalóide do peyote, produzindo através delas várias obras pictóricas e textos experimentais, vibrantes e minuciosos: L’Infini Turbulent (1957), Paix dans les Brisementes (1959), Connaissance par les Gouffres (1961) e Les Grandes Épreuves de l’Esprit (1969), Misérable Miracle (1972). Como Baudelaire, Quincey, Artaud, Cocteau, Huxley, Castañeda, Burroughs e tantos outros, buscou nas drogas a sensibilidade que habita fora dos limites da mente humana, descrevendo minuciosamente as suas sensações, pensamentos e movimentos que sentiu nas suas experiências. Carlos Castañeda, celebrizou o famoso cactos ao contar as suas experiências com Don Juan, que dizia que a mescalina ensinava a “maneira mais correcta de viver”. Artaud acreditava que com o peyote sabemos até “onde chegará o seu ser e até onde ainda não conseguiu chegar”. A droga na obra destes autores desvenda o real invisível como o verdadeiro real. Pelo peyote, os índios huichol libertavam-se dos seus pensamentos, dos seus atos (bons ou maus), desnudando-se de todo o seu eu para alcançar a liberdade pura do pensar. Ao achar concluídas as suas experiências, Michaux deixou as drogas por achar que “não estava feito para a dependência”.

A literatura híbrida de Michaux é pura entrega, êxtase, estertor interior. Tudo para dizer simplesmente que a vida está onde queremos, assim como no erro e na dúvida de cada entrega. Um jogo permanente entre a presença e a ausência, a ascensão e a queda, o circunstancial e o eu. Clássico das vanguardas, a sua obra é das mais originais do século XX. Este estranho poeta dizia que a poesia não é o verso, que está em toda a parte, e que o poema matava a poesia. Sem pertencer a qualquer escola literária, os seus inesperados textos usaram o simbolismo, o dadaísmo, o surrealismo, o existencialismo, o absurdo e fantasias irónicas e oníricas. Nem todos os lugares e povos que retratava nos seus livros são reais, muitos surgiram da sua imaginação com a precisão de um antropólogo, como os seres de Au Pays de la Magie (1941). Nele contou os costumes, os rituais e festas, o que pensam e como vivem os magos, os omobules, os ecoravetias, os nonais, os oliabares, os hivinizkis, os hacs, os emanglones e os meidosems (só para citar alguns). Com um certo humor negro, o poeta satiriza à maneira de Jonathan Swift a realidade da sociedade em que viveu. Uma veia fantástica poderosa, concentrando universos em pequenos fragmentos, imitando a realidade a partir de um mundo paralelo.
Reservado, esquivo, discreto, tranquilo e elegante, com vida social nula e poucos conhecidos, o poeta não dava entrevistas nem permitia ser fotografado, e a sua biografia, sem muitos dados concretos, só pôde ser feita através da sua correspondência privada. Nunca se considerou um literato e recusou receber o Grande Prémio Nacional de Letras, em 1965. Acreditava que a maioria das pessoas representava um papel, e que, geralmente, ele conseguia muito rapidamente arrancar essa máscara, provocando um desinteresse por elas. Franzino, de saúde frágil, naturalizou-se francês em 1955, e foi um homem sem limites geográficos, mentais ou linguísticos. Um extraordinário caso de um escritor indefinido. A sua literatura combina narração, prosa, descrição etnológica, poesia nada lírica e um certo humor surreal. Os seus textos são resultados de anotações, diários, cadernos, notas de viagem, descobrimentos, em que introduz a sua impressão pessoal, muitas vezes abstracta e simbólica. Um explorador de uma nova visão do mundo e dos seus seres. Morreu em Paris em 1984, sempre apoiado num certo desespero.



Principais obras:

Qui je Fus (1927)
Ecuador (1929)
Une Barbare en Asie (1933)
Voyage en Grande Carabagne (1936)
Plume / Lointain Intérieur (1938)
Au Pays de la Magie (1941)
Arbres des Tropiques (1942)
L’Éspace du Dedans – Pages Choisies (1944)
Épreuves, Exorcismes (1940-1944)
Ailleurs (1948)
Noux Deux, Encore (1948)
La Vie dans les Plis (1949)
Passages (1937-1950)
Mouvements (1951)
Face aux Verrous (1954)
L’Infinit Turbulent (1957)
Paix dans les Brisements (1959)
Connaissance par les Gouffres (1961)
Vents et Poussières (1962)
Les Grandes Épreuves de l’Esprit et les Innombrables Petites (1969)
Façons d’Endormi, Façons d’Éveillé (1969)
Misérable Miracle (1972)
Émergences, Résurgences (1972)
Moments,Traversées du Temps (1973)
Face à ce qui se Dérobe (1976)
Choix de Poèmes (1976)
Poteaux d’Angle (1981)
Chemins Cherchés, Chemins Perdus, Transgressions (1982)

Sem comentários: