Altos ciprestes, esses poemas
Que se perfilam ao longe na planície escrita dos meus dias.
Negras presenças do mundo, dos homens, da rosa
Incendiada nas palavras.

Recusados troféus que sabem agonizar
E sobem livres da terra
Num rouco, musculoso grito de transfiguração
Pela natureza.

Que mãos, que olhos, que sexos,
Que espáduas, beijos, que fragilidades nuas, venenosas,
Que fibras, febres, pugilatos,
Que murmúrios, hossanas, que traições, que crimes?

Vê-los no ar denso da memória,
A sua tenebrosa sombra acabrunha-me.
Não posso recusar o sangue que me trazem
Não posso recuar da morte que me acenam.

Versos do começo e do fim
Fábulas de nervos ao redor do cérebro
Quem vos traz aqui ao sabor do vento imoderado
De encontro ao vidro sujo do meu rosto e do carro?



Armando Silva Carvalho
O Amante Japonês
Assírio & Alvim, 2008

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