No fim, penso que tinha razão
- todo o absurdo artifício do poder,
a lâmina implacável da inteligência,
as sórdidas, políticas palavras,
os arranhados projectos impossíveis –
sim, tinha razão nesse dia. Lembro-me bem
quando pensei, deitado junto dela,
que a única coisa real é uma boa puta,
uma pele cálida, lábios silenciosos, mãos sábias,
naquele bordel, ao pé de Neuilly, ao amanhecer.
Por isso, porque acho que tinha razão, sou mais culpado
- livros, declarações, ideias, lealdades,
o segredo de tudo, o avesso do nada –
quanto tempo perdido para chegar a isto,
para recordar, sem solução já, os seus longos músculos,
o sabor espesso da boca, os mamilos rosados.
Caía uma luz cinzenta sobre a cama,
naquele cu memorável, imóvel,
sim, tinha razão, essa puta
de quem nunca soube o nome ou então esqueci,
o fumo de um cigarro, isso é tudo, eu tinha razão,
e se não tinha, que importa agora?
Juan Luis Panero
Tradução A.M.
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:)
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