Já não é possível enrolar mais esta erva
nos teus dedos;
os teus dedos
já não tocam o nervo da noite
e o fumo violento
que inalas a desinfestar a alma
faz-te vagarosa beleza.
O anzol circular que o teu lábio mordeu,
paixão de peixes,
quer morder o meu
aço. A erva quer ser lua
na crescente inclinação rente.
Eu não quero ser nada.
E está frio, mas não menciono nenhum mês
como o fazem os poetas.
Duas belas balas medem
o calibre dos meus olhos. Cindo nos dedos
outros dedos contorcidos:
o gás é nosso amigo.
Não há grilos na hesitação
do silêncio. Não há mortais desembainhando
navalhas. Hoje longa hespéria
te espero
e assim como um torpor te entro
como fumo
nos pulmões.
Daniel Jonas
Os fantasmas inquilinos
Livros Cotovia, 2005
Sem comentários:
Enviar um comentário