É ainda assim completamente insuportável!
Estou rabugento como tudo.
A minha rabugice não é conforme poderia ser a vossa:
apanharia qual um cão o rosto de testa lisa
da lua
e cobrindo-a de latidos.
Deve ser dos nervos…
Vou sair,
dar uma volta.
Mas na rua ninguém consegue acalmar-me.
Uma mulher grita-me qualquer coisa a propósito de uma boa tarde.
Há que responder:
eu conheço-a.
Quero fazê-lo,
mas sinto
que é impossível à maneira dos homens.
Que escândalo!
Estarei a dormir?
Apalpo-me:
sou tal como era,
o rosto a que estou habituado.
Toco no lábio,
por baixo desponta
um canino.
Escondo rapidamente a cara, como para me assoar,
corri para casa dobrando o passo.
Contorno prudente a esquadra mas de repente um grito ensurdecedor:
«Ó da guarda!
Ele tem uma cauda!»
Passei a mão e fiquei hirto!
Isto era mais claro
que todos os caninos,
na minha pressa furiosa não tinha reparado
que sob o casaco
uma enorme cauda tinha estendido o seu leque
e abanava atrás de mim,
uma enorme cauda de cão.
Que irá acontecer?
Um pôs-se a berrar, amotinando a multidão,
ao segundo juntou-se um terceiro, depois um quarto.
Derrubaram uma pobre velha
que benzendo-se gritou qualquer coisa a propósito do diabo.
E quando, a cara eriçada pelas vassouras de enormes bigodes
a multidão se aproximou,
imensa,
maldosa,
eu pus-me a quatro patas
e ladrei:
Au! Au! Au!
Vladimir Maiakovski
33 Poesias
Quasi Edições, 2008
tradução de Adolfo Luxúria Canibal
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