A José Bento
vendados sus ojos,
espera la resurrección de la carne
aqui, bajo esta piedra.
Leopoldo Panero
Iespera la resurrección de la carne
aqui, bajo esta piedra.
Leopoldo Panero
Não, Panero, não creio
na ressurreição da carne.
Não esperes debaixo dessa pedra:
Deus teve sempre a face
de um homem incorruptível
lutando contra os seus demónios.
Lázaro, que tudo soube e nada
disse, jaz a teu lado.
É melhor restituir aos outros
os nossos quinze anos,
a esperança de que sejam luminosos
e sobrevivam, como sementes de luzerna,
e escrever, como tu, versos
que detinham o fogo e a neve divinas
e amá-los como se neles
resplandecessem ainda os teus olhos
e a fé que os abrasava, limpos de cinza.
II
E contudo, Panero, desejaria
matar-te a sede com um favo de mel,
com hortelã e funcho despertar-te o olfacto,
a vista com os olhos que amavas, azuis,
o tacto com a própria pele, recém-nascida.
Desejaria, sim, pudesses dizer
que presenciaste a transfiguração
do Deus dos mortos em Deus dos vivos
e que Ele sofreu mais que o Filho
para sair do sepulcro, e te ungiu
os ossos purificando a íntima lepra,
e que a tua alma penetrou no corpo
como a primavera dentro de um ninho.
António Osório
A ignorância da morte
Edição do autor, 1978
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