quando ouvires o homem transumante cantar
vai
que te acompanhe o noctívago rumor húmido da cidade
e das águas terão recolhido em ânforas os ossos de Osíris onde
o olhar fosfosrescente dos felinos apaziguados incendeia
os resíduos de uma memória tolhida na vertigem do tempo
que te acompanhe o rubro silêncio dos mortos
e a traiçoeira humildade dos que parecem vivos
e o rio deslizando pelo deserto entorpecido da alma
a algazarra dos barqueiros núbios que vendem pó de anjo
e rápidos prazeres nas irreais tabernas de Alexandria
que te acompanhem as limpas palavras
muito nítidas as íbis e os tigres sinalizando a morada
onde uma nova linguagem irrompe e o homem
exerce o sagrado ofício da tumular escrita
que te acompanhe o rosto ausente dos amigos
a sabedoria das constelações o lume precioso
em nocturnos dilúvios de alquímicos minerais
e os dedos mergulharão na púrpura dos séculos para guardar
com todo o cuidado a sageza das profecias e a cicatriz
daquilo que futuros arqueólogos da língua designarão
por misteriosa violeta serpente náutica.
Al berto
O Medo
Assírio &Alvim, 2000
1 comentário:
editei o título do poema mas não estava certo, só depois de consultar o livro dei conta que me havia equivocado. pelo facto as minhas desculpas. sê bem vinda.
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