apolo primitivo

Assim como às vezes através dos ramos
inda sem folhas, a manhã espreita
já toda em primavera: assim na sua fronte
nada há que impedir possa que o fulgor

de todos os poemas venha ferir-nos
quase de morte; pois não há inda sombra
no olhar, a fronte, fresca de mais, não pede louros,
e só mais tarde se lhe elevará

das sobrancelhas o alto rosal
cujas pétalas, soltas e dispersas,
flutuarão sobre o tremor da boca

que agora inda está calma, e brilhante e nova,
e a beber só gota a gota com o sorriso,
como se lhe instilassem o cantar.


Rainer Maria Rilke
Poemas - As Elegias de Duíno Sonetos a Orfeu
Asa, 2001

1 comentário:

Popelina disse...

Rilke, gosto mais do que muito. e este blog é excelente. Há um(a) autor(a)?