- amas-me?
- amo-te.
ama-se sempre quando alguém nos pergunta.
...
às vezes, não suportamos, e em locais alugados ingerimos sem pudor um frasco de comprimidos. Semanas depois, o cheiro a podre denuncia-nos. Então, chamam a polícia, arrombam as portas, e vêem-nos: irreconhecíveis, esbatidas por vermes caridosos. Passou-se: dizem: e facilmente se esquecem
ele afasta a minha mão da testa: deixa-me em paz, chove em Portugal, não a água tépida dos sonhos, mas esta que mesmo em sonho, molha, chove sobre o sono, o hax, nada já tenho a fazer por estas bandas, o xaile de lã pela cabeça, ir-me-ei onde peçam sinas, a aldeia é transformada em vidente, habitante de uma terra de árvores ordeiras, de uma espécie única de pássaros
não queremos mais nada senão dormir junto a um gajo que queira dormir junto a nós: só isto: cedemos a um apelo interior: ouviu as vozes: as dos seus santos e santas: vai ao rei Luís e diz-lhe que salvarás a França, e aumentar-lhe-ás a glória, e dormirás nos acampamentos, com os soldados, porque não é só salvar o rei e a pátria mas também ter o seu gozosinho, que os ingleses, a morte na fogueira, ou trespassada de lanças, serei finda, por última visão o céu de Crécy ou de Rouen ou um céu qualquer, altíssimo, esbatido pela vida, minimizando-se por entre as viseiras e couraças ou enevoado pelo fumo da madeira húmida, crepitante. E os gritos da populaça. E o rei esquecendo-me. Abandonada também por minhas vozes. Talvez Santa Catarina se tenha perdido pelo cio que assopra em tempos de remorso e haja confundido águias e setas, gemidos e urzes
- Falas do céu com tanta desatenção!
Rui Runes
quem da pátria sai a si mesmo escapa?
Relógio d'Água, 1983
1 comentário:
que texto inebriante,
"_amas-me?
_amo-te.
ama-se sempre quando alguém nos pergunta."
"E o rei esquecendo-me. Abandonada também por minhas vozes. Talvez Santa Catarina se tenha perdido pelo cio que assopra em tempos de remorso e haja confundido águias e setas, gemidos e urzes
_ Falas do céu com tanta desatenção!"
gostei muito destas passagens.
bjs
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