duvido que te chames ocaso embora assim gostasse que
fosse, e nesta dúvida reside a clarificação de qualquer coisa
impune, como o amor. na superficialidade de que és feito
dou pinceladas às cegas, tento a minha sorte, que de tão
tentada já não vai a lado nenhum, estagnou. o coração é um
membro gasto, que bate automaticamente, mecanicamente
bombeia sangue para todo o corpo e, se não fosse este gesto
repetido, diria que é um membro morto, morto de frio ou
calor, morto de morte ou de vida e é, nestas pequenas
contradições, que se começa a chorar. é o não saber, é o não
estar onde, o fechar os olhos e arrastar o corpo para longe, o
degular de ideias vazias e esperar que reproduzam efeito nos
confins da alma. estamos todos incrivelmente mortos e nem
sabemos, e gostamos de não saber, de habitar a ignorância
de quem nunca recebeu afecto. somos feridos e ferimos de
dentro para fora.



margarete da silva

2 comentários:

. disse...

não é que os poemas precisem de qualquer tipo de comentário ou elogio para os tornarem bons. mas quando as palavras nos tocam de alguma maneira, ou nos calamos por falta de saber o que dizer ou então temos mesmo de dizer qualquer coisa.

neste caso, dou os meus parabéns à mar, por me fazer ler este poema de fora para dentro.

*

bruno vilar disse...

Gostei imenso.