a paisagem prolonga-se num S de flores azuladas
ela entra nas ruínas
junto ao ângulo penumbroso da casa destruída
está vestida de branco quando ele lhe fala
ambos têm o olhar vago

ela recorta-se sobre um fundo de árvores nuas
ele está de pé encostado a um muro de pedra
ouve-se alguém dizer: não tenhas medo
somos apenas actores dum sonho paralelo à paisagem

os lábio delas tremem ou sorriem
ele encolhe-se mais contra a parede
o silêncio ainda não os abandonou

ela espreita-o
ele desenha-se exacto no centro do écran
(de novo uma voz off)
um vento vertical adere à casa
onde as raízes dos cardos irrompem dos alicerces
e quando ela se vira para o interior das ruínas
prende-se-lhe o olhar num ponto inexistente

ele já ali não está
apenas a objectiva da câmara continua a segui-la



Al Berto
Trabalhos do Olhar
Contexto, 1982

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