Não me lembro de mortos nos teus interiores.
Os mortos, muitos já, que pesam como pedras vivas
Na bagageira usada do meu pensamento,
Esses mortos não invadem com as nódoas de memória
A tua, tão transportadora, e feita ao mundo
Na desordem fútil do esquecimento vão.

Mortos subtis, de repente nus, ou então cobertos
Duma terra adversa ao teu rodar atento
Surgem como sombras de amor e logo se dispersam
Sem que as palavras sirvam de refrão à existência
Muda ou gravada na alma um instante passageiro,
Urgentes ou cativos da minha vida móvel.

Mortos que nadam nesse lago do nada e acendem
na bagagem o fogo que consome
As imagens de outrora e nunca saberão
Como pronunciar vivos a palavra mortos
Agora que contigo vou e não sei enfrentar
O reflectir do tempo no espelho vão da hora.



Armando Silva Carvalho
O Amante Japonês
Assírio & Alvim, 2008

1 comentário:

R disse...

gostei muito deste blog :)