Instalação

Quando falo da cidade ou penso
em ti é sempre do mesmo ângulo,
do lado do rio por onde fujo
quando me aborreces, quando me irrita
o lado mais comum da vida.
Não insistas que é a máquina
dos fumos o que arrasta o nevoeiro
até à saída dos baixios: bem vejo
que são os corsários a correr nos botes
cinzentos, doentes e efémeros
a acreditar que o sol se apagará
em gestos líquidos, arbitrários.
Corro e salto e fecho os olhos
até à outra margem. Também
há contentores da Maersk e da Aws
mas ficou longe o desenho dos mastros,
a força esguia das tainhas a salvo.
Ouço-te rir por pensares que brinco
e regresso pela ponte, cheio
de saudades. Vamos esconder-nos
para trás do Azimute?



Manuel Fernando Gonçalves
Coração Independente
Assírio & Alvim

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