Confesso que não compreendi o sentido em mutação
de qualquer referência ao modo como abres
as pernas e esperas que sacie a minha fome.
Disseram-me sempre coisas diferentes.
Aceito que não basta a extensão húmida do meu desejo
sobre a fragilidade da tua nudez,
o modo como o teu abdómen contrai,
como respiras tão perto e estrangulas a minha vontade.
Aceito que não bastaria perfurar-te os olhos
ou rasgar-te o ventre. Dentro de ti é um lugar
em que me situas à distância inteligível das coisas,
sempre que aceitas com condescendência
a minha intimidade, o modo vulnerável e subterrâneo
com que sinto subjugar-te.

Depois expulsas-me de ti sem dores de parto
e eu guardo a sensação de te habitar
com uma certa presunção de inocência.



José Rui Teixeira
Assim na Terra
Quasi Edições, 2005

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