Quando aqui não estás
o que nos rodeou põe-se a morrer

a janela que abre para o mar
continua fechada só nos sonhos
me ergo
abro-a
deixo a frescura e a força da manhã
escorrerem pelos dedos prisioneiros
da tristeza
acordo
para a cegante claridade das ondas

um rosto desenvolve-se nítido
além
rasando o sal da imensa ausência
uma voz

quero morrer
com uma overdose de beleza

e num sussurro o corpo apaziguado
perscruta esse coração
esse
solitário caçador


Al Berto
O Medo
Assírio & Alvim, 2005

3 comentários:

. disse...

"quero morrer com uma overdose de beleza"

é tão bom este poema

*

bruno vilar disse...

O poema "diz-me-me".

Frederico Salema disse...

Sim, é formidável.