Ah as aparências como são obscuras
como são ambíguas!
Elas são e não são
Elas acendem-se e apagam-se
Mas nunca dizem Aqui dói
Aqui é
Elas passam por cima
do que está por passar
como se não estivesse por passar
Com a sua incessante mecânica
preenchem as concavidades
que deixam atrás de si
Elas ocultam a sombra
nos seus espelhos de areia
O osso nunca lhes sai
porque tudo arredondam
para que não lhes escape o vento
pelas frestas das suas frases
e pelas sonoras lâminas
da sua armação de vidro
Elas não revelam o tigre nem a águia
que estão ou não estão dentro delas
e não vêem a dançarina exausta
que se deitou sobre uma cama de folhas
porque entrou no âmbito da imobildade pura
António Ramos Rosa
Deambulações Oblíquas
Quetzal Editores
2 comentários:
Não conhecia e esta "deambulação" em torno das aparências é sublime.
beijo,
Liliana
Profundamente belo. Imaginei uma dançarina frenética rodeada de redemoinho rodopiante de folhas aéreas até à exaustão. Esgotadas, uma
deita-se sobre as outras.
Enfim, deambulações...
Beijo
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