Outrora.
Todas as coisas têm uma:
é o que são.
A minha outrora
é o porquê desta rua
que sobe oblíqua para a saudade
o porquê desta calçada de granitos
que pedra após pedra me tocou na boca
e chegou ao cimo de mim.
Escorrega-me a voz entre a insónia e a memória
Procuro a boca a matéria nocturna dos lábios
Responde uma respiração húmida interrompida
lavrando a aridez abrupta do meu corpo campo de batalha
planalto de labirintos inacabados.
Paulo Renato Cardoso
Órbitas Primitivas
Quasi Edições
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