o jogo / jorge luís borges

O Jogo

Não se olhavam. Na partilhada penumbra ambos estavam sérios e silenciosos.
Ele tinha-lhe pegado na mão esquerda e tirava-lhe e punha-lhe o anel de marfim e o anel de prata.
A seguir pegou-lhe na mão direita e tirou-lhe e pôs-lhe os dois anéis de prata e o anel de ouro com pedras duras.
Ela estendia alternadamente as mãos.
Aquilo durou algum tempo. Foram entrelaçando os dedos e juntando as palmas das mãos.
Procediam com lenta delicadeza, como se temessem enganar-se.
Não sabiam que era necessário aquele jogo para que determinada coisa acontecesse, no futuro, em determinada região.



Jorge Luís Borges
História da Noite
Obras Completas III

Círculo de Leitores

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