valquírias

Escolhida por entre as falanges do lago
a luz
guarda para si a melhor parte do silêncio.

Deslizam da sombras das magnólias
como peixes traçando uma perdida
e perfeita linguagem,
trazem de longe, enquanto passam,
tempo que me segue nos seus rostos
e se muda nas casas
adormecidas de encontro ao lago.

As crianças olham-se desde os patos
deslumbradas como se ali não fosse
o seu mais perfeito lugar,
luxações de pólen
nos térreos tornozelos das mães
e noutro sítio a coberto
de antigas nuvens.

Está próxima a luz:
na promessa do gelo,
nas gáveas da montanha.

A superfície da terra
ondula nos afagos do lago como se a luz
me tivesse empurrado: e a luz
está pela borda - um olhar fecha-me a boca
com a fragrância de cabelos lavados,
a pele é uma cegueira muito antiga,
o susto de um voo picado - a luz
verte
desastradamente
o pensamento muda-me o corpo
para as águas profundas do lago.

Rui Lage
Berçário
Quasi Edições, 2004

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