"Pensava em ti, Susana. Nas colinas verdes. Quando lançávamos papagaios na época do vento. Ouviamos lá em baixo o rumor vivo da aldeia enquanto estávamos por cima dele, no alto da colina, e, entretanto, fugia-nos o fio de cânhamo arrastado pelo vento. "Ajuda-me, Susana". E umas mãos suaves apertavam as nossas mãos. "Solta mais fio."
"O ar fazia-nos rir; juntava os nossos olhares enquanto o fio corria entre os dedos atrás do vento, até se partir com um leve estalido como se tivesse sido despedaçado pelas asas de algum pássaro. E lá do alto, o pássaro de papel caia às piruetas, arrastando a sua cauda de cordel, perdendo-se no ventre da terra.
"Os teus lábios estavam molhados como se o orvalho, os houvesse beijado".
"Lembrava-me de ti. De quando ali estavas, olhando-me com os teus olhos de água marinha."
"...Havia uma lua grande no meio do mundo. Os meus olhos perdiam-se, a olhar para ti. Os raios da lua filtravam-se sobre a tua cara. Não me cansava de ver essa aparição que tu eras. Suave, esfregada pela lua; a tua boca macia, húmida, irisada de estrelas; o teu corpo cada vez mais transparente na água da noite. Susana, Susana San Juan."
Juan Rulfo
Pedro Páramo
Cavalo de Ferro
"O ar fazia-nos rir; juntava os nossos olhares enquanto o fio corria entre os dedos atrás do vento, até se partir com um leve estalido como se tivesse sido despedaçado pelas asas de algum pássaro. E lá do alto, o pássaro de papel caia às piruetas, arrastando a sua cauda de cordel, perdendo-se no ventre da terra.
"Os teus lábios estavam molhados como se o orvalho, os houvesse beijado".
"Lembrava-me de ti. De quando ali estavas, olhando-me com os teus olhos de água marinha."
"...Havia uma lua grande no meio do mundo. Os meus olhos perdiam-se, a olhar para ti. Os raios da lua filtravam-se sobre a tua cara. Não me cansava de ver essa aparição que tu eras. Suave, esfregada pela lua; a tua boca macia, húmida, irisada de estrelas; o teu corpo cada vez mais transparente na água da noite. Susana, Susana San Juan."
Juan Rulfo
Pedro Páramo
Cavalo de Ferro
2 comentários:
Veio mesmo a calhar porque ainda hoje passei pelo site da editora
e senti-me tentado a encomendá-lo.
O passo que escolheste é belíssimo e
a minha memória -faz destas de vez em quando, sei lá porquê- conduziu-me a outra belíssima obra da Literatura Universal, a ler : O Tumulto das Ondas de Yukio Mishima.
Bruno, permite-me que te aconselhe a encomendá-lo, é um dos mais belos livros que já li.
O que me fascina, também,na Literatura é essa associação a outras obras.
Neste momento leio mais uma obra de Murakami...
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