Sendo assim, envio para o tempo
o que agora arde no traço dos olhos.
Bem entendes, ora entende lá!
que só na areia brilham tais esplendores
verdes e se o amor é de espelhos
então vá, explica se consegues segurar,
às quinze e quarenta e quatro, essa
explosão de infinito, essa partícula
de energia renitente, uma que persiste.
Se apenas vês sangue a diluir-se
na rama dos braços, sarcasmo
e gritos quando tremo de ser
eu, o sujeito discutível de todos
os versos, então proponho
à imagem que se torne difusa,
se requebre ao ritmo das pedras
atiradas à agua, com que ideia?
Rasgar um emblema na pele
dos choupos, o teu nome, algum grito
curioso à espera do eco do gaio,
na pele da ideia simples de juntar
a distância à velocidade e o desejo
e o arfar sobranceiro de quem sabe
olhar: retirar o poema das pedras
com que afugentas o monstro, recolhes
a água que sobra de um olhar turvo;
escrever o poema na água e deixar
que o sol cumpra a sua tarefa:
espasmos e caprichos de uma jornada
inteira de movimentos velozes,
delicados, vultos por cima da copa
das árvores, da alma dos pássaros:
como o que fazemos com o tempo,
pedra sincopada a rasgar os sobressaltos.
Manuel Fernando Gonçalves
Coração Independente
Assírio & Alvim
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