Invenção do nada

Não reparei
enquanto aqui escrevia
que nada resta do mundo
excepto a minha mesa e a cadeira.

E por isso disse:
(por que raio, para abusar da paciência)
É esta a taberna
sem um copo, vinho ou criado
onde sou o bêbado que há muito esperam?

A cor de nada é azul.
Eu bato-lhe com a mão esquerda e a mão desaparece.
Então porque estou tão sossegado
e tão feliz?

Eu subo para a mesa
(a cadeira já desapareceu)
eu canto pelo gargalo
de uma garrafa de cerveja vazia.



Charles Simic
Previsão de Tempo para Utopia e Arredores
Assírio & Alvim, 2002
Tradução de José Alberto Oliveira

Sem comentários: