Antes que as gotas fizessem baloiçar os ramos
nós, por trás da janela, esperávamos
que a água lavasse as folhas escondidas.
Depois chovia que Deus a dava
e pusemos um copo no peitoril
a medir a água pluvial em centímetros.
Às quatro o sol apareceu
e sobre a janela o copo cintilava
pleno até à borda.
Eu e meu irmão bebemos metade cada um
e comparámos a água do poço
com a do céu que é mais escorregadia
e contudo tem o sabor a relâmpagos.
Tonino Guerra
O mel
Assírio & Alvim, 2004
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