Tal como qualquer cidade
também nós escondemos
turvos itinerários, edifícios arruinados,
escuras vielas de rancor ou desejo,
arrabaldes de medo ou parques para o amor,
cantos em penumbra onde ocultar segredos,
praças que nunca visitamos
e aborrecidos museus onde expor lembranças
que não interessam a ninguém.
A nós
também nos habitam cidadãos terríveis:
funcionários do tédio,
mensageiros de moto levando para muito longe
o pequeno embrulho - primoroso e com laço-
dos remorsos.
Viajantes que passam por nós
com as suas malas a caminho de outros corpos
e sobretudo
transeuntes alheios à nossa própria vontade,
inciveis e teimosos;
têm nomes ridículos
tal como os sentimentos amor, rancor ou medo
e especulam- como vulgares comerciantes-
com o preço
por metro quadrado do nosso coração.
silvia ugidos
In Joaquim Manuel Magalhães,
Poesia Espanhola: anos 90,
Lisboa, Relógio D'Água, 2000
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