Desde o centro do frio, a imagem pura
- uma bandeira de chamas lançada ao vento.
E os pulmões são grandes, secretas caixas,
onde ressoa o gelo quebrado da solidão.
Inspirar, expirar: o corpo é esse circuito
de intimidade e morte, crescendo na medida
do que perde, inventando-se
continuamente.
Depois há um ombro que se destaca,
e isso já não diz respeito ao único corpo.
Porque ninguém está só na revelação de si.
Esse ombro que se oferece ao testemunho,
pede a sua existência como coisa
prodigiosa à fascinação alheia.
Assim um corpo e outro corpo constroem
medidas planetárias, abraçam-se
nas mínimas distâncias possíveis,
sobrepõem-se, excluem-se, sucumbem,
apelam ao que não há.
E nisto vibra a pura, pura imagem.
As chamas atiradas ao vento ardem em mão inocente.
Porque a mão que escreve é a mão que toca
é a mão que afasta. O concentrado poder
das mãos.
Por onde o corpo parte à descoberta
de um território para a nudez.
Vasco Gato
Imo
Quasi Edições, 2003
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