o poema
é tão inimigo do poeta como o filho do pai,
o poeta deve morrer para que o poema viva.
o poema é o cume da rocha,
lá onde a vida se contempla a si própria
hesitando em lançar-se ao fundo do abismo.
o poema revela-nos que uma montanha
é tão misteriosa como a pena
de um pássaro.
o poema tem asas que não utiliza,
talvez se pareça com um pequeno cavalo verde.
a tonelada do poema não pode submeter o grama
nem o grama submeter a tonelada.
o poema é o único vigilante
sobre os que dormem e os despertos.
o poema tem longas mãos que chegam
onde os outros não alcançam.
o poema desce às cloacas subterrâneas
com suas botas de água salvadoras.
o poema sente o esqueleto em que descansam
delicadamente altos edifícios
ao mesmo tempo que ouve murmurar o carvão
na cave.
o poema suspende o seu farol sobre o desfiladeiro,
rato de pele prateada entre montes de lixo.
o poema abre os olhos do menino que permanece no adulto
escrito que foi na palma da tua mãe antes de nasceres.
o poema acompanha a ceifa da revolução,
o seu corpo jovem está tatuado com imagens
que abrem os seus mil olhos ao mundo.
Artur Lundkvist
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