esperança

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...



Mario Quintana
Nova Antologia Poética
Editora Globo, 1998

4 comentários:

  1. Quintana, o poeta menino feiticeiro.

    No mínimo enternecedor. Gosto muito
    desta ironia leve e desta simplicidade desarmante.

    Poema indelevelmente impresso na inteligência.

    Beijo

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  2. está presente uma ironia que fundida na simplicidade fica gravada na retina dos olhos que passam e permanecem nas palavras

    Como o próprio Quintana diz "...os verdadeiros versos não são para embalar
    mas para abalar..."

    beijo

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  3. Os poemas



    "Os poemas são pássaros que chegam
    não se sabe de onde e pousam
    no livro que lês.
    Quando fechas o livro, eles alçam vôo
    como de um alçapão.
    Eles não têm pouso
    nem porto
    alimentam-se um instante em cada par de mãos
    e partem.
    E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
    no maravilhoso espanto de saberes
    que o alimento deles já estava em ti..."

    Poucos disto se dão conta. Porque disto depende um "prestar-de-atenção" exímio.

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  4. hum,

    belo, muy belo.

    "Eles não têm pouso
    nem porto
    alimentam-se um instante em cada par de mãos
    e partem"


    obrigada pela partilha,

    beijo

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